terça-feira, 17 de agosto de 2010

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Ler devia ser proibido

antes da literatura de Camus, a Sociologia num nascedouro à contra-mão da Filosofia

Por Paulo Ghiraldelli Jr., em História Essencial da Filosofia, vol. 5:

A ciência saiu na frente no século XIX. A física tornou-se modelo para tudo. A metafísica entrou em baixa. Iniciou-se uma época em que aos poucos a palavra "filósofo" já não implicava mais em um estudioso de vários assuntos. Caiu por terra a idéia consagrada do professor de filosofia cujo trabalho seria o de mostrar o seu sistema que, enfim, poderia muito bem dar cobertura para todas as atividades do cospos. À ciência caberia o uso livre da razão. Ela se viu cada vez mais entusiasmada com os métodos positivos, ou seja, os do empirismo, e com suas chances de gerar tecnologia e mudar o mundo.

Os filósofos não desapareceram, é claro, mas vários deles, já no século XX, ainda que envolvidos nos estudos da tradição da disciplina - em especial as discussões da metafísica - , tiveram de se ocupar da ciência de uma maneira diferente, reconsiderando a metodologia que até então utilizavam. Definitivamente, eles tiveram, dois séculos após o primeiro forte brado de David Hume contra a metafísica e em favor de uma visão empirista, a levar a sério a metodologia experimental associada a uma teoria que se pretendia antes descritiva que normativa.
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A sociologia nasceu contra a filosofia? Sim, neste aspecto: a filosofia moral ou todo o campo da ética que, enfim, estava encarregada de falar sobre o comportamento humano, não seria a melhor forma de conversar de modo culto a respeito da sociedade. E isso por uma razão simples: como falar de comportamentos, tão diversos em cada povo e entre os povos, querendo antes mudá-los ou avaliá-los que entendê-los? De que valeria a filosofia moral e todo o estudo da ética se não fosse para ter consciência de que o relativismo, a forma de dizer que cada cultura tinha sua razão de ser, não fosse levado a sério? Levar a sério o relativismo não deveria implicar em uma atitude voltada para o entendimento das culturas antes da avaliação delas diante de padrões paroquiais? Julgar por padrões paroquiais as culturas e feitos humanos seria ceder ao próprio relativismo de modo fácil, e não levá-lo a sério para tentar sair dele de uma maneira melhor que até então os filósofos haviam tentado.

Ninguém conviveu tanto com o relativismo antropológico que Durkheim e seus parentes pesquisadores. Ele se via como tendo condições de dar uma resposta ao relativismo de uma maneira que a filosofia não havia conseguido fazer.

A corrente de pensamento de Durkheim, o positivismo francês, dominou boa parte das universidades do mundo e, durante todo o século XX, mostrou uma força enorme no sentido da ampliação e enriquecimento da teoria social. Incorporou o saber antropológico da filosofia e ampliou esse conhecimento, usando novos métodos - uma busca pela pesquisa empírica e pelo tratamento estatístico dos dados obtidos. A idéia básica era a de respeitar as provocações do relativismo e, no entanto, refutá-lo a partir de um conhecimento objetivo da própria sociedade. A objetividade alcançada pelas ciências da natureza deveria ser possível também ao que era produzido pelo homem, como os elementos da cultura e a própria sociedade como um todo. Isso, que era uma esperança nos tempos de Compte, passou a ser algo que parecia ser muito bem realizado no tempo de Durkheim. Essa era a própria visão de Durkheim sobre o assunto.

A universidade abrigou essa nova ciência. Sem interromper a disciplina filosofia ou a teologia, elaborou grades curriculares capazes de dividir o saber e as especialidades dos professores. A tese da necessidade das especialidades e de áreas particulares, sem que fosse necessário recorrer à filosofia e menos ainda à teologia para conferir uma unidade ao conhecimento e ao julgamento moral, ganhou a adesão da maioria dos professores. A universidade passou a ser cada vez meos um lugar de estudos desinteressados e, sim, um colégio de profissionalização de jovens. Aos poucos, toda e qualquer atividade da vida profissional moderna se fez correlata a um curso universitário, sendo este, então, o lugar que deveria formar o jovem na profissão determinada, recortada segundo um determinado conteúdo e de acordo com uma demanda social.

(em "Durkheim do Relativismo ao Elogio da Modernidade", paginas 12 e 13 do volume 5 de "História Essencial da Filosofia")

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

uma advertência de Shopenhauer (1788-1860) contra o empirismo

Assim como a leitura, a mera experiência não pode substituir o pensamento. A pura empiria está para o pensamento como o ato de comer está para a digestão e a assimilação. Quando a experiência se vangloria de que somente ela, por meio de suas descobertas, fez progredir o saber humano, é como se a boca quisesse se gabar por sustentar sozinha a existência do corpo.

"Projeto e Destino" de Giulio Argan

"Não se projeta unca para mas sempre contra alguém ou alguma coisa: contra a especulação imobiliária e as leis ou as autoridades que a protegem, contra a exploração do homem pelo homem, contra a mecanização da existência, contra os tabus e a superstição, conntra a agressão dos violentos, contra a adversidade das forças naturais; sobretudo, projeta-se conntra a resignação ao imprevisível, ao acaso, à desordem, aos golpes cegos dos acontecimento, ao destino."

Fico devendo a referência bibliográfica completa, e o título, do qual me aproprio...